Quantos milhões são necessários para caracterizar um milionário? Ao contrário do que muitos podem pensar, ter R$ 1 milhão na conta não é suficiente. Os critérios para classificar alguém como milionário variam, mas em geral têm um ponto em comum: o patrimônio líquido. Isto é, o valor do patrimônio do indivíduo descontadas as dívidas. Mas há também outros fatores, como a capacidade de poupança e o valor dos ativos em dólar.
“Existe uma diferença muito grande entre a pessoa ter R$ 1 milhão na conta e ser milionária. Se eu tenho esse valor, mas tenho uma dívida de R$ 1,5 milhão, por exemplo, eu poderia ser considerado milionário? Mais ou menos”, afirma Cristiano Corrêa, professor de Finanças do Ibmec SP.
Marcos Milan, professor da FIA Business School, acrescenta que o patrimônio do indivíduo pode considerar tanto os recursos investidos, quanto bens, como imóveis, empresas e obras de arte. No entanto, para calcular o valor líquido, é preciso subtrair todas as dívidas, como financiamentos imobiliários e de automóveis, por exemplo.
“Se após fazer essa conta você chegou a um valor de R$ 1 milhão ou mais, parabéns! Você pode ser considerado milionário, ainda que não tenha esse dinheiro todo na conta. Dada essa lógica, naturalmente também é possível chamar de milionário quem possui apenas ativos financeiros, ou seja, investimentos, dinheiro em conta, no valor de R$ 1 milhão ou mais, ainda que essa pessoa não possua carrões ou mansões em seu nome”, explica o professor.
No Brasil, pessoas com R$ 1 milhão ou mais investidos são classificadas como investidores qualificados. Essa categoria tem acesso a produtos financeiros mais arrojados e normalmente com chances de retornos mais altas, mas também podem acabar pagando taxas de administração mais elevadas.
Mas existem ainda outros critérios para determinar quem é ou não milionário. Em rankings globais, por exemplo, o valor do patrimônio é considerado em dólar, para que seja possível fazer uma comparação entre os países. Essa regra também pode ser adotada por instituições financeiras ou de outros setores para filtrar o perfil dos clientes. De acordo com esse parâmetro, um brasileiro só seria considerado milionário se tivesse US$ 1 milhão de patrimônio líquido, cerca de R$ 5 milhões.
“Como o Brasil tem uma moeda que não é forte, a gente tem a tendência de dolarizar, para ter uma comparação melhor em termos de ganhos reais”, justifica Corrêa.
Essa classificação também reflete melhor o poder de compra ou o potencial de investimento de um indivíduo, ressalta Milan, lembrando que em alguns países, como a Argentina, um milhão na moeda local pode não significar um valor tão alto. Para se ter uma ideia, um milhão de pesos argentinos corresponde a apenas cerca de US$ 2.700 ou pouco mais de R$ 13.500.
“Sabemos muito bem que em um mundo globalizado não podemos colocar em um mesmo degrau alguém que possua um patrimônio de US$ 1 milhão com alguém que possua um patrimônio de R$ 1 milhão ou 1 milhão de pesos. Para padronizar e fazer uma régua justa de comparação de riqueza e até para nos mantermos atualizados quanto às facilidades de ter parte de seu patrimônio investido fora do país, consideramos o valor em dólar”, diz Milan.
A capacidade de poupança também é um ponto a ser considerado. Um indivíduo que recebe uma renda mensal de R$ 84 mil, por exemplo, teria pouco mais de R$ 1 milhão no fim do ano. No entanto, se ele gasta todo esse valor mensalmente, não terá dinheiro algum no fim do ano e, portanto, não poderá ser considerado um milionário.
Corrêa também cita como exemplo uma pessoa que tenha um imóvel avaliado em mais de R$ 1 milhão, mas que por algum motivo não pode vendê-lo. Para o professor, esse indivíduo não pode ser considerado milionário, a não ser que conseguisse rentabilizar esse imóvel, através do aluguel, por exemplo, e a partir daí construir seu próprio patrimônio.
“A classificação de riqueza está mais ligada à capacidade da pessoa de utilizar os recursos livres para investimento do que ao tamanho do patrimônio. Investir é como pagar contas, é preciso criar esse compromisso para chegar à condição de milionário”, aconselha o economista.
Fonte: Estadão