Prefeito usou coletiva sobre crise na Saúde para dizer que não está “sumido” e que vai ficar no cargo até o fim do mandato, em 31 de dezembro
O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Solidariedade), anunciou nesta quarta-feira (27) a substituição dos três servidores da Secretaria de Saúde municipal presos em operação do Ministério Público de Goiás (MP-GO) e aproveitou para mandar recados de que continua à frente das decisões da prefeitura. Durante coletiva de imprensa no Paço Municipal, Cruz usou frases como “não joguei a toalha”, afirmando que não estava “sumido”. O prefeito aparentava abatimento e não respondeu a perguntas.
A coletiva foi chamada para informar sobre a nomeação de Cynara Mathias Costa como nova secretária de Saúde, Cássia Spirandelli como secretária-executiva e Bruno Costa como diretor-financeiro, em substituição a Wilson Pollara, Quesede Ayres Henrique e Bruno Vianna Primo, presos e afastados por decisão judicial.
A operação do MP-GO revelou acusações de irregularidades na pasta, incluindo a manipulação da ordem cronológica de pagamentos em benefício de interesses específicos. Cruz defendeu sua gestão mencionando o decreto 580, vigente desde fevereiro de 2024, que regulamenta os pagamentos cronológicos. “Cada secretaria tem a sua prioridade, mas também sua justificativa para os pagamentos”, afirmou.
Apesar do escândalo, o prefeito preferiu concentrar grande parte de sua fala em rebater críticas sobre sua atuação no final do mandato. Cruz, que não foi reeleito e será sucedido por Sandro Mabel (União Brasil) em janeiro, negou estar ausente ou “sumido”. “Estou todos os dias no Paço Municipal, preparando a prefeitura para ser bem entregue ao próximo gestor. Não joguei a toalha e sigo trabalhando com determinação”, garantiu.
“Não sou de desistir”, afirma Rogério Cruz
Visivelmente incomodado, Cruz refutou insinuações de que teria se afastado das responsabilidades administrativas. Ele destacou que, até 31 de dezembro de 2024, seguirá empenhado na resolução de problemas e na continuidade dos serviços. “Não sou de desistir. Vivi 16 anos em um país em guerra e sei o que é enfrentar desafios. Estou ativo, trabalhando diariamente com os secretários e com a equipe de transição do Sandro Mabel”, afirmou, citando o período em que foi missionário evangélico na África.
Sobre sua ausência em reuniões da equipe de transição, Cruz explicou que não participa por não ser obrigatório. “Essas reuniões são técnicas, conduzidas por representantes que passam as informações necessárias. Minha equipe está dedicada a colaborar com o processo de transição para garantir uma transferência organizada”, detalhou.
O prefeito também ressaltou que “a crise da saúde não é apenas de Goiânia. Continuamos tratando desses assuntos tecnicamente em conjunto com o estado”, disse.
Críticas
A coletiva, que deveria ser focada no escândalo envolvendo a saúde, acabou servindo como palco para justificativas pessoais do prefeito. Cruz vem sendo muito criticado pela gestão e terminou as eleições de outubro em penúltimo lugar na preferência dos eleitores.
Pouco depois da entrevista dele, durante a tarde, o MP-GO promoveu uma entrevista coletiva onde foram detalhadas algumas irregularidades apuradas.
Uma delas aponta que o dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS) tem chegado regularmente até o Fundo Municipal de Saúde, mas não parou de ser repassado pela secretaria de Saúde para pagar prestadores de serviço, gerando falhas na prestação dos serviços para desespero da população que depende do SUS.
A dívida com algumas unidades soma R$ 300 milhões, conforme o MP-GO.
Texto: Marília Assunção
Foto: Jucimar Rodrigues