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Brasil amplia atenção nas fronteiras com a Venezuela e a Guiana

Ministro da Defesa, José Múcio Monteiro se reúne com o presidente Lula e diz que preocupação do país é reforçar a presença nas áreas próximas à região do conflito

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou preocupação com as fronteiras do país com a Venezuela e a Guiana na conversa que teve, nesta sexta-feira, com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, no Palácio da Alvorada. Neste momento de tensão entre os dois vizinhos do Norte — o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ameaça tomar a região de Essequibo, que corresponde a mais da metade do território guianês —, a orientação do Palácio do Planalto para as Forças Armadas é cuidar dos acessos ao território brasileiro.

“Estamos atentos para que não sejamos instrumento de um incidente diplomático”, declarou José Múcio a jornalistas que o aguardavam na saída do ministério, antes de se reunir com Lula.

Depois da reunião no Alvorada, o ministro disse ao Correio que a conversa com o presidente foi “muito boa”. Além da crise na fronteira, Lula e José Múcio falaram sobre investimentos nas Forças Armadas, que precisam de complemento no Orçamento da União para 2024 — assunto em discussão no Congresso.

“Nossa missão é cuidar de todas as fronteiras, do Rio Grande do Sul a Roraima. Agora, a tensão está na fronteira norte, e é lá que estão as nossas atenções”, frisou o ministro. Segundo ele, o presidente acompanha com atenção a crise dos vizinhos. “Quem está à frente disso é a diplomacia, nós (da Defesa) estamos preocupados em reforçar nossa presença (na fronteira)”.

A primeira medida efetiva foi confirmada, nesta sexta-feira, pelo comando do Exército. O 12° Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, responsável pelos veículos blindados que atuam na fronteira norte, vai ficar três vezes maior.

A unidade, sediada em Boa Vista, está em processo de transformação para virar o 18° Regimento de Cavalaria Mecanizado, uma ampliação prevista desde 2009, mas que só seria plenamente efetivada em 2025, com recursos que constam do Plano Estratégico da Força para o triênio 2020/2023.

Segundo o Estado-Maior do Exército, o processo de implantação do novo regimento, que contará com 600 militares divididos em três esquadrões, “foi efetivado neste mês como resposta natural à atual conjuntura geopolítica da fronteira norte”, em referência à crise entre Venezuela e Guiana.

Como primeiro reforço, 16 veículos blindados Guaicurus estão sendo deslocados de unidades do Sul e do Centro-Oeste para Boa Vista e Pacaraima, na fronteira venezuelana, e mais uma dezena deve ser enviada nos próximos dias.

Os blindados podem transportar metralhadoras e mísseis, “fornecendo poder de fogo em missões de reconhecimento”, segundo informou o Exército. O reforço militar na fronteira norte é preventivo, para o caso de acirramento das tensões.

A maior preocupação é com a possibilidade de um conflito militar provocar movimentação de populações que vivem na região conflagrada e áreas vizinhas, pressionando os postos de fronteira em Roraima.

Oficiais do alto escalão das Forças Armadas, ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato, trabalham com a hipótese de Maduro deflagrar algum tipo de ação militar em Essequibo — cuja dimensão ainda não é possível prever — para dar satisfação ao eleitorado venezuelano, após o referendo que aprovou a anexação do território em disputa com a Guiana.

Corroborando a preocupação do ministro José Múcio, os estrategistas militares diagnosticaram que, independentemente do cenário, o Brasil deve reforçar a segurança nas duas fronteiras, porque o efetivo atual é considerado baixo diante da dimensão que a crise pode tomar.

Pressão sul-americana
Na quinta-feira, Colômbia, Chile, Equador e Peru se juntaram aos quatro países-membros do Mercosul (Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai) e assinaram um comunicado para manifestar a “profunda preocupação com a elevação das tensões” entre a Venezuela e a Guiana.

O país governado por Nicolás Maduro está suspenso do bloco por descumprimento de cláusulas democráticas. Os presidentes dos oito países deixaram clara a posição de que “a América Latina deve ser um território de paz e, no presente caso, trabalhar com todas as ferramentas de sua longa tradição de diálogo”.

Aos líderes dos dois países em conflito, a nota alerta que “ações unilaterais devem ser evitadas, pois adicionam tensão” e apela para que haja “diálogo” e “busca de uma solução pacífica da controvérsia, a fim de evitar ações e iniciativas unilaterais que possam agravá-la”.

No encerramento da Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, no Rio de Janeiro, Lula declarou que o Brasil está à disposição, se houver acenos da Venezuela e da Guiana, para mediar uma saída negociada e pacífica para a disputa. “Uma coisa que nós não queremos na América do Sul é guerra. Não precisamos de conflitos”, afirmou, na ocasião. (Colaborou Renato Souza).

Fonte: Correio Braziliense

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